Entrevista com Paulo M. Morais
Paulo M. Morais nasceu em Lisboa em 1972. É jornalista
freelancer com um fascínio enorme pela diversidade de povos e culturas.
Já
viajou pelo mundo durante oito meses e depois de muita escrita “para a gaveta”
lançou em 2013 através da Porto Editora a sua primeira obra: “Revolução
Paraíso”.
Para nossa enorme satisfação o autor acedeu a responder a
algumas perguntas para o Blog da Biblioteca Municipal de Mondim de Basto.
1 – O Paulo M. Morais
licenciou-se em Comunicação Social, quando é que surgiu o “bichinho” da
comunicação?
A minha entrada na Comunicação Social foi fruto do acaso,
mas uma vez no curso tornou-se claro que seguiria jornalismo. Queria trabalhar
na imprensa escrita. Estava seduzido pela antiga imagem lírica do redator a
“dactilografar” os seus artigos, isolado na sua secretária ao fundo da sala...
2 - O autor tem como
influências José Saramago, Eça de Queiroz, Ernest Hemingway, Philip Roth ou
Fernando Pessoa, para citar alguns exemplos. Entre estes há algum que o tenha
marcado particularmente?
Todos os autores que admiro acabam por me marcar, nem que
seja inconscientemente. Mas também gosto de explicitar influências. Por
exemplo, os livros do Eça tiveram um papel fundamental na escrita do “Revolução
Paraíso”. E sempre que tenho de escrever um diálogo procuro lembrar-me de
Ernest Hemingway, na esperança de escrevê-los com um pouco da mesma habilidade
e inspiração.
3 – Lançou “Revolução Paraíso” em 2013 mas já escrevia
antes. Só agora surgiu a oportunidade ou só agora arriscou?
Comecei o meu primeiro romance no final de 2009. Acabei-o em
setembro de 2010 e desde essa altura que comecei a tentar ser publicado. Mas em
vez de ficar parado à espera da resposta das editoras, continuei a escrever,
ciente de que a ficção é um ofício onde a aprendizagem e a experiência também
contam. O “Revolução Paraíso” foi o segundo romance que submeti às editoras
para avaliação e acabou por ser o primeiro editado.
4 – É difícil para um novo autor chegar à Porto Editora?
Num país onde os hábitos de leitura já são escassos, o
período de recessão económica veio ainda tornar mais difícil a aposta em novos
autores que sejam desconhecidos do grande público. Eu tive a sorte e o
privilégio de a Porto Editora acreditar em mim. Agora resta-me continuar a
trabalhar e evoluir para justificar a aposta inicial.
5 – Deu uma volta ao mundo em oito meses. Fale-nos sobre
essa experiência.
Uma experiência fantástica e, ao mesmo tempo, muito
exigente. Serviu para conhecer novas culturas mas também para testar os
próprios limites; viajar de mochila às costas, exige uma tomada de decisões
quase constante. E julgo que o ter passado por tantos países diferentes
aprofundou-me a vontade de descobrir o que é Portugal e o que é isso de ser
português.
6 – Antes foi crítico de um portal de cinema e dirigiu uma
revista de DVD’s. De onde apareceu o fascínio pelo cinema? Os projetos
continuam ou foram terminados?
A paixão pelo cinema surgiu cedo, com as matinés de filmes
clássicos da RTP. Depois manteve-se, incólume, e tive a sorte de no meu
percurso profissional cumprir o sonho de fazer crítica de cinema. Os projetos
dessa área em que estive envolvido acabaram por ser descontinuados. Está nos
meus planos voltar à crítica de cinema, assim surja uma oportunidade.
7 – O livro
“Revolução Paraíso” alterna realidade com ficção. Transporta-nos para os dias
após 25 de Abril. De onde surgiu esta ideia?
O fundo realista tem origem numa série de álbuns com
recortes da imprensa do pós-25 de Abril. Quando a minha avó me legou aquele
arquivo fabuloso, senti que um dia teria de lhe dar utilidade. A ideia de
escrever um romance passado naquele tempo acabou por amadurecer com o passar
dos anos. Depois, aos poucos, surgiram as personagens ficcionais que iriam
“viver” os acontecimentos históricos.
8 – O livro contém bastantes expressões e citações de “Os
Maias”, foi a grande influência da sua primeira obra?
9 – Que opinião possui sobre o Acordo Ortográfico?
Como jornalista fui obrigado a adotá-lo nos meus textos para
alguns órgãos de comunicação. O Acordo Ortográfico poderá ter defeitos, mas
julgo que é muitíssimo pior esta guerra que se estabeleceu entre os que aplicam
e os que não aplicam. Agora, em vez de um Acordo com arestas por limar, temos
um caos linguístico, em que ninguém se entende e onde cada qual escreve como
quer. Todo este processo, desde o início, parece-me o reflexo da incapacidade
de diálogo e consenso que existe em vários quadrantes do nosso país.
10 – Se recebesse uma proposta para tornar o livro em filme
ou série, aceitava?
Em princípio, não veria qualquer impedimento. Há sempre o
medo de que um filme não seja uma adaptação fiel do livro original, mas eu
encaro-os como objetos distintos. Aliás, uma das “adaptações” cinematográficas
de que mais gosto é o “Apocalypse Now”, de Francis Ford Coppola, vagamente
inspirado no romance “O Coração das Trevas”, de Joseph Conrad.
11 – Por fim, deixe uma mensagem para os leitores e para os
autores que se procuram lançar no campo literário.
Mais informações sobre "Revolução Paraíso" em http://www.wook.pt/ficha/revolucao-paraiso/a/id/14784468
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